Doki Livros | Corações Feridos, Louisa Reid
Corações Feridos
Duas irmãs gêmeas. Uma linda, a outra desfigurada. Divididas por um terrível segredo...
Autora: Louisa Reid
Páginas: 255
Editora: Novo Conceito
Classificação: 5/5 Luas
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capa |
Me lembro que a primeira vez que
li a sinopse desse livro, pensei que a história de Rebecca fosse apenas mais uma
entre as milhares de histórias tristes sobre personagens que eu poderia ter
conhecido em algum momento da minha vida escolar. Ela me fazia acordar
lembranças de garotas que tentavam ficar fora do caminho de outras pessoas e
não conversavam com ninguém, por medo ou apreensão de fazer qualquer coisa
errada. Bem, para bem ou para mal, eu me surpreendi mais do que o esperado,
sofri mais do que o esperado e não foi somente isso o que aconteceu durante a
minha leitura.
Corações Feridos foi o primeiro contato que tive com a autora.
Antes de receber o livro, não tinha nem mesmo acessado o site de Louisa Reid – e só o fiz depois que a
mesma retuitou um tuite que fiz sobre o booktrailer nacional do seu livro.
Descobri que além de possuir um nome muito bonito, a mulher por trás de Black Heart Blue possui uma história de
vida muito bonita e uma profundidade em suas palavras capaz de abalar a mais
cética das pessoas – além de ser professora, como eu serei um dia.
Pois bem, comecei a ler como
alguém que não quer nada, sem saber direito o que esperar ou o que procurar nas
entrelinhas dos pensamentos de duas adolescentes que pareciam tão diferentes e
tão perdidas nas armadilhas daquilo que seus pais tinham escolhido – imposto – para
elas e chamavam de vida. Ainda me pergunto como uma pessoa pode suportar viver
daquela maneira, como alguém pode se submeter e submeter outras pessoas à esse
tipo de existência. Cada vez que encontro um livro tão forte como esse, me
preocupo e me pergunto se os seres humanos gostam de ser maus.
Ir para a cama cedo era uma boa ideia. Se eu tivesse a chave do meu quarto, teria me trancado. O Pai guardava a chave. Mas pelo menos ele nunca entrara. Ele sempre cuidava de seus negócios sujos lá embaixo, como se isso fosse normal.
A narrativa passeia entre os
pontos de vista de Hephzi e Reb. O de Hephzi – e que nome diferente, hein?
Hephzibah é um nome e tanto, daquele tipo que não encontramos sempre – nos
mostra como as coisas estavam antes de sua morte e como ela tentava a todo
custo fugir daquele mundo que o pai
impusera. Hephzi muitas vezes me pareceu mesquinha, pois depois de conseguir ir
para a escola como todas as outras crianças e começar a namorar um garoto
bonito, começou a deixar Rebecca de lado. É claro que Rebecca também não queria
estar entre outras pessoas, para ela era difícil estar no meio de tanta gente
quando não era igual aos outros. Mesmo assim, por ser irmã – a ainda por cima,
gêmea –, acho que Hephzi poderia ser mais companheira de Rebecca. Em alguns
momentos tive a impressão de que ela estava cansada da irmã. Mas é o que dizem,
quando não passamos pelo o que os outros passam, não podemos realmente julgar.
Com o ponto de vista de Rebecca
acompanhamos o desenrolar de sua história depois do enterro de sua irmã. As
coisas não ficaram boas para ela, na verdade, pioraram. A intolerância de seu
pai e inércia de sua mãe eram revoltantes. É difícil para mim entender como
podem existir pais que não amem seus filhos como a minha mãe me ama, aprendi a
associar “mãe” a amor incondicional e sinto alguma coisa fechar a boca do meu
estômago quando conheço personagens que não aprenderam o mesmo que eu. Rebecca
é ao mesmo tempo frágil e forte, ela é frágil quando se trata em conviver com
outras pessoas, se aceitar sem remorsos por ser diferente, tentar se relacionar
com outras pessoas que não sejam de sua família ou igreja. E é forte por sempre
acordar na manhã seguinte, enfrentar um novo raiar do sol com todos os percalços
que seu pai lhe impõe.
Creio que todos têm um limite e
as mortes de sua avó e Hephzi fizeram com que Reb finalmente chegasse ao seu.
Os acontecimentos a empurram até o momento em que ela não aguenta mais. E
enquanto o leitor mergulha nessa avalanche de emoções, descobre pouco a pouco o
que essas duas irmãs sofriam de verdade. Foi uma viagem turbulenta, não posso
negar. Em vários momentos me encontrei vertendo lágrimas com as palavras que
Louise escreveu – pode até ser que eu estivesse um tanto quanto frágil na época
da leitura, mas mesmo assim, raramente me comovi tanto com um história.
Os outros parentes de Reb não
fizeram muita coisa. A tia teve participação importante na “reta final” e
algumas pessoas da igreja também foram responsáveis por passagens boas no
passado. Mas ainda me pergunto se elas não poderiam ter feito mais.
Quando Reb finalmente conta o que
realmente aconteceu com a irmã, a sensação é sufocante.
Antes de terminar essa resenha,
não posso deixar de comentar sobre Craig. O namorado de Hephzi é um garoto
legal, consciente e bonito. Ele é um dos personagens que possuem aquela faísca
que faz a diferença. Mesmo sem saber como, ele queria ajudar Hephzi e mais tarde,
quis ajudar a salvar Reb. Craig teve um papel importante na reta final do
livro, ele e Reb criaram uma relação amigável muito bonita – e nunca me senti
tão feliz em ver um personagem com sangue nas veias e vontade de se vingar pelo
o que aconteceu com a garota que amava.
Sombras tremulavam nas paredes e o teto brilhava com um resto de luz do sol. Não conseguia ver direito aonde estava indo e tentava fixar meus olhos à frente, para fugir.
Corações Feridos é um romance
forte, com história e personagens arrebatadores, capaz de te deixar jogado no
chão ao final da narrativa. Precisei de algum tempo para processar tudo o que
senti com essa leitura – e não consegui expressar nessa resenha nem a metade do
que tinha planejado. Reid tem um talento incrível com as palavras, ela me
surpreendeu a cada novo capítulo e a cada nova revelação dos segredos escondidos
pelos cantos das memórias dos familiares das duas irmãs.
Me sinto obrigada a recomendar
esse livro. Às vezes, precisamos de histórias que balancem as nossas estruturas
para acordarmos e nos lembrarmos que nem tudo é perfeito – e que em algum lugar
do mundo, existem histórias reais que se parecem muito com o que alguns escritores
gravam nas folhas de papel. Corações Feridos é o tipo de narrativa que deixa
marcas em quem lê. É o tipo de livro que ficará guardado na sua memória por um
longo tempo, pode apostar.
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