Eu não costumo contar muito sobre a minha vida cotidiana aqui no blog (um, porque meu Instagram está aí para isso; dois, porque meu Snapchat também está aí para isso), salvo um post ou outro quando participei do #100happydays e de pontos específicos sobre mim, mas algumas vezes... Algumas vezes eu sinto que é necessário falar sobre algumas coisas. E ao contrário do que acontece várias vezes quando quero escrever alguma coisa que não envolve necessáriamente livros e doramas, dessa vez julgo importante demais para não ser escrito. Dessa vez, vou falar sobre como uma ação, que parecia bem pequena, mudou bastante as minhas últimas semanas.
Para quem não se lembra (ou não sabe mesmo), eu estudo na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e estou no quinto ano de Letras. O campus em São Carlos da minha querida federal fica na rodovia Washington Luis (quilômetro alguma coisa) e possui uma vasta área verde e bonita que costuma encantar os alunos -- o lago da federal foi uma das razões que me fizeram escolher ficar aqui, afinal de contas. Mas uma coisa incômoda acontece há vários anos por aqui: a violência contra os universitários. Eu não vou entrar nessa questão de forma profunda -- você só precisa saber, nesse momento, que nós, tanto da federal quando da USP, somos visados por ladrões, golpistas e todo o resto como qualquer outra pessoa, mas pela maioria viver ao redor dos campus e, querendo ou não, perto uns dos outros, "nossos bairros" são marcados. Sabendo disso, tentamos tomar cuidado.
A questão que impulsinou certas atitudes "novas", no entanto, é um pouco mais séria do que o medo de todo dia de ser assaltado. É que de janeiro para cá, o número de tentativas de estupro, assalto e assédio contra mulheres ao redor tanto do campus da USP (região em que eu moro) quanto da UFSCar (região que amigos meus moram) cresceu muito e assustadoramente.
Não saem tantas notícias sobre os casos, mas você pode conferir uma clicando aqui e/ou aqui e outras clicando aqui ou aqui.
Essa situação chegou em um nível insustentável. Para nos prevenir e espalhar as notícias e avisos ("atenção, meninas, tem um cara assim e assim perseguindo as meninas no lugar x"; "tem uma mulher estranha pedindo dinheiro e ela jogou uma garrafa com xixi em mim!"; "um homem de roxo está escondido numa construção e perseguindo e xingando moças"; "de manhã, um homem me agarrou e..."), nós temos vários grupos no Facebook (um geral da universidade, um sobre assaltos, um para questões de moradia e mobília, etc.) e é sobre um desses grupos que vou comentar hoje, porque querendo ou não, esse grupo me fez abrir os olhos.
Resumindo a história, uma moça muito legal teve a ideia de criar um grupo -- tanto no Facebook quanto no WhatsApp (no WhatsApp são vários grupos, para as várias regiões -- um da Cidade Jardim para a UFSCar, um do centro para a UFScar, etc.) -- para as moças oferecerem e procurarem caronas -- no meu caso, do bairro Cidade Jardim para a federal e da federal para a Cidade Jardim. (É claro que sempre aparece uma pessoa que não consegue perceber que o mundo não gira em torno do seu umbigo e reclama sobre o grupo ser "só de meninas", mas relevamos isso e seguimos em frente.) Agora, por que um grupo apenas com mulheres? Veja bem: nós temos medo, sim, de pegar carona com estranhos. Nem todos os homens são ameaças em potencial, mas na atual situação... todo cuidado é pouco e ter uma companhia a mais para ir e/ou voltar da universidade é muito bom. Mas deixando essa questão de lado, vamos ao que interessa.
Sororidade.
Você provavelmente conhece o movimento "Vamos juntas?" (vou comentar sobre o livro mais tarde, também, prometo! -- só preciso terminar de ler antes disso) e deve saber que ele começou como um movimento para as mulheres andarem juntas (hoje é muito mais do que isso, é um movimento e uma comunidade sobre "estar juntas") -- e é mais ou menos isso o que queremos com as caronas. Estarmos juntas.
O grupo no WhatsApp começou há mais ou menos duas semanas e além das meninas procurarem e oferecerem caronas, também são feitos grupos para voltar ou ir para a universidade andando -- eu fui e voltei de carona algumas vezes e algumas outras também fui andando e a experiência é bem diferente da de ir andando (ou mesmo de ônibus) sozinha. Quando estamos juntas o medo diminui -- ainda mexem com a gente na rua? Sim, porque nem todo mundo entendeu o ponto da campanha "Chega de Fiu-Fiu", mas ainda assim temos a sensação de que os homens que estão rondando os bairros não vão se aproximar de um grupo.
Essa atitude mudou bastante os meus dias. Eu passei a ficar mais atenta -- o que sempre fui, mas sem querer acabei ficando com aquela sensação de "não vai acontecer" (mesmo já tendo sido assaltada perto de casa no segundo ano da universidade) -- e a me preocupar com outras moças. Eu não dirijo, então não posso oferecer carona, mas sempre que estou saindo da universidade vejo se alguém quer companhia para voltar para casa -- andando, de ônibus ou até mesmo de carro.
São ações que parecem pequenas, mas mudam o mundo de cada uma das pessoas envolvidas.
PS: O "Vamos Juntas? O guia de sororidade para todas" está disponivel para você comprar nas livrarias espalhadas pelo pais, mas você pode comprar o seu clicando aqui.
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Imagem: Waldeck Schützer (link) |
A questão que impulsinou certas atitudes "novas", no entanto, é um pouco mais séria do que o medo de todo dia de ser assaltado. É que de janeiro para cá, o número de tentativas de estupro, assalto e assédio contra mulheres ao redor tanto do campus da USP (região em que eu moro) quanto da UFSCar (região que amigos meus moram) cresceu muito e assustadoramente.
Não saem tantas notícias sobre os casos, mas você pode conferir uma clicando aqui e/ou aqui e outras clicando aqui ou aqui.
Essa situação chegou em um nível insustentável. Para nos prevenir e espalhar as notícias e avisos ("atenção, meninas, tem um cara assim e assim perseguindo as meninas no lugar x"; "tem uma mulher estranha pedindo dinheiro e ela jogou uma garrafa com xixi em mim!"; "um homem de roxo está escondido numa construção e perseguindo e xingando moças"; "de manhã, um homem me agarrou e..."), nós temos vários grupos no Facebook (um geral da universidade, um sobre assaltos, um para questões de moradia e mobília, etc.) e é sobre um desses grupos que vou comentar hoje, porque querendo ou não, esse grupo me fez abrir os olhos.
Resumindo a história, uma moça muito legal teve a ideia de criar um grupo -- tanto no Facebook quanto no WhatsApp (no WhatsApp são vários grupos, para as várias regiões -- um da Cidade Jardim para a UFSCar, um do centro para a UFScar, etc.) -- para as moças oferecerem e procurarem caronas -- no meu caso, do bairro Cidade Jardim para a federal e da federal para a Cidade Jardim. (É claro que sempre aparece uma pessoa que não consegue perceber que o mundo não gira em torno do seu umbigo e reclama sobre o grupo ser "só de meninas", mas relevamos isso e seguimos em frente.) Agora, por que um grupo apenas com mulheres? Veja bem: nós temos medo, sim, de pegar carona com estranhos. Nem todos os homens são ameaças em potencial, mas na atual situação... todo cuidado é pouco e ter uma companhia a mais para ir e/ou voltar da universidade é muito bom. Mas deixando essa questão de lado, vamos ao que interessa.
Sororidade.
Você provavelmente conhece o movimento "Vamos juntas?" (vou comentar sobre o livro mais tarde, também, prometo! -- só preciso terminar de ler antes disso) e deve saber que ele começou como um movimento para as mulheres andarem juntas (hoje é muito mais do que isso, é um movimento e uma comunidade sobre "estar juntas") -- e é mais ou menos isso o que queremos com as caronas. Estarmos juntas.
O grupo no WhatsApp começou há mais ou menos duas semanas e além das meninas procurarem e oferecerem caronas, também são feitos grupos para voltar ou ir para a universidade andando -- eu fui e voltei de carona algumas vezes e algumas outras também fui andando e a experiência é bem diferente da de ir andando (ou mesmo de ônibus) sozinha. Quando estamos juntas o medo diminui -- ainda mexem com a gente na rua? Sim, porque nem todo mundo entendeu o ponto da campanha "Chega de Fiu-Fiu", mas ainda assim temos a sensação de que os homens que estão rondando os bairros não vão se aproximar de um grupo.
Essa atitude mudou bastante os meus dias. Eu passei a ficar mais atenta -- o que sempre fui, mas sem querer acabei ficando com aquela sensação de "não vai acontecer" (mesmo já tendo sido assaltada perto de casa no segundo ano da universidade) -- e a me preocupar com outras moças. Eu não dirijo, então não posso oferecer carona, mas sempre que estou saindo da universidade vejo se alguém quer companhia para voltar para casa -- andando, de ônibus ou até mesmo de carro.
São ações que parecem pequenas, mas mudam o mundo de cada uma das pessoas envolvidas.
PS: O "Vamos Juntas? O guia de sororidade para todas" está disponivel para você comprar nas livrarias espalhadas pelo pais, mas você pode comprar o seu clicando aqui.
Até breve! ❤
Oi
ResponderExcluirAchei legal a ideia seria interessante se tivesse isso na cidade que morei e que a minha irmã mora atualmente, no primeiro ano de faculdade eu morava longe da facul e ia a pé e sozinha morria de medo, pois sai 22:00 e dava um medo e realmente quando se está acompanhada a situação é diferente as vezes eu tinha sorte de encontrar algumas pessoas que indo ai a gente voltava junto e a experiencia era diferente, depois fui morar mais perto da faculdade duas quadras, mas agora para a minha irmã era bom, ela mora longe da faculdade, tem que pegar ônibus sozinha e o ponto fica 10 quadras da casa dela, esses dias uma garota foi estrupada no campus da faculdade que ela estuda, na verdade a menina é da faculdade vizinha eles só que os campus dividem a biblioteca e foi perto da biblioteca que pegaram, o suspeito até foi preso. o medo da minha irmã aumento ela falou que um dia ficou até as 19:00 esperando o ônibus no escuro e sozinha.
Iniciativas assim são bem legais.
momentocrivelli.blogspot.com.br
Sim! sei como é isso! minha aula acaba vinte pras onze toda noite, então sempre tudo está fechado (ou fechando) e muito escuro, o que deixa ainda mais perigoso. Acho que vale passar a ideia pras meninas da facul da sua irmã, se vocês tiverem um grupo geral no fb, como a minha tem, fica mais fácil organizar e ter "resultados" (grupos de caronas iguais ao que acontece aqui, etc). :D
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