
Depois que terminei o post anterior, fiquei pensando que deveria ter escrito mais algumas linhas explicando qual é o meu fio condutor das reflexões que pretendo fazer, mas percebi que como ainda não defini completamente o caminho que farei, não te contar não seria um pecado tão grande assim. Então, aqui estamos nós
Continuando com o que comecei na semana passada - e agora que você já sabe um pouco mais sobre o Clube de Romances da Carina –, me parece que chegou a minha hora de comentar sobre algumas características que diferenciam o Clube da Carina dos outros clubes do livro que existem neste país
Para começar, um dos pontos que mais me chamou atenção tem a ver com as edições que são enviadas aos assinantes. Ao contrário de outros clubes que enviam para seus assinantes edições diferenciadas dos títulos escolhidos (como por exemplo, o Intrínsecos e a Escotilha NS, das editoras Intrínseca e Novo Século, respectivamente, ou como a TAG Livros, que não é uma editora tradicional, mas edita seus livros), o Clube da Carina envia edições em "capa normal" dos livros inéditos (que serão lançados ao público geral, três meses depois do envio da caixa) e edições anteriores de livros do Grupo Editorial Record, que são chamados de "Tesouro do Catálogo". Não há uma identidade visual padrão para os livros serem identificados como parte de uma coleção especial, como no Intrínsecos, ou edições únicas com a identidade visual da marca, como na TAG. O Clube da Carina se aproxima mais de "caixas" como as do Turista Literário e do Clube do Livros e Citações (e, talvez se eu não estiver enganada, das caixas que eram enviadas pela The Gift Box num momento antes de passar a atuar como editora), por enviar livros e "mimos*", objetos que são de acordo com a temática da caixa ou do livro.
E já que estamos falando de mimos, me parece o gancho perfeito para falar dos itens que são enviados no Clube da Carina. Além dos dois livros, são enviados brindes surpresa, postais colecionáveis, marcadores de página (tudo temático de acordo com os volumes enviados), carta da Carina, cupom de desconto para compras de livros direto na editora e lembrete das lives. Os mimos – objetos surpresa, postais e marcadores de página – já são bastante comuns entre as caixas de assinatura** para os bibliófilos de plantão, mas os cupons de desconto e as lives não são encontrados em vários outros clubes. Antes de falar destes dois "itens" (posso chamar uma live de item?), acho interessante mencionar que a carta da curadora também é um item diferencial neste caso porque sempre é uma carta da Carina falando sobre o que a levou a escolher os livros enviados. Nos outros clubes temos cartas dos curadores ou revistas sobre os volumes enviados, mas eles nunca são necessariamente da mesma pessoa. Os cupons obviamente instigam o assinante a adquirir outros livros da editora, mas as lives tentam resgatar a essência do que eram os clubes de livro em algum momento do passado.
Participo de um clube do livro, o Infinistante (este não envolve assinaturas mensais, nem nada assim), que propõe leituras mensais e ao final das leituras há uma live no YouTube, para comentários e discussões das histórias e impressões das três criadoras do projeto com os leitores participantes, que estiverem online. E o que mais me deixa interessada em realizar as leituras – além, é claro, dos livros escolhidos – é essa possibilidade de poder saber o que as outras pessoas que leram a história acharam de seu desenvolvimento e temas abordados, porque não é todo dia que tenho vontade de escrever uma resenha com dez-doze parágrafos sobre um livro que li. Para mim, o Infinistante consegue atualizar um rito (a discussão de uma leitura compartilhada) que estava caindo em desuso por uma parcela abrangente de leitores e, agora, o Clube da Carina começa a fazer a mesma coisa. Byung-Chul Han, especialista em Filosofia e Estudos Culturais, diz em Agonia do Eros (editora Vozes, 2017) que os espaços e as ações rituais estão desaparecendo cada vez mais rapidamente (o que claramente é real), então entendo que ações como essa, ainda que não tenham especificamente este propósito, levam as ações rituais para novos espaços, ao mesmo tempo as transformando e impedindo seu desaparecimento. E, se a adoração ao livro, como bem menciona Alberto Manguel em Uma História da Leitura (Companhia das Letras, 2012), é um dos alicerces da sociedade letrada como a que estamos, os clubes de livros, como o da Carina, têm parte importante na fetichização do objeto e na continuidade da adoração.
A possibilidade de troca dos livros de catálogo enviados no Clube da Carina é mais um ponto para a minha lista de diferenças em relação aos outros clubes de livros. Assim como nos demais clubes, os volumes inéditos não podem ser trocados (até porque são inéditos e a ideia é aproveitar o gostinho de ser um leitor "vip", não é mesmo?), mas o segundo livro enviado, o do catálogo, caso o assinante já possua em sua estante pode ser trocado por algum dos outros títulos pré-determinados pela editora/clube – mas é claro que essa opção não fica aberta sempre, o assinante tem até 7 dias após ter recebido sua caixa para entrar em contato através do e-mail da editora para solicitar a troca e saber mais detalhes de como o processo é realizado.
Outro ponto interessante de se mencionar é que a curadoria é exclusiva da Carina. Geralmente, ou não sabemos quem são os curadores das caixas dos clubes de livros, ou são curadores temporários (a TAG, por exemplo, tem um curador ou curadora diferente em cada edição). Pelo Clube ser da Carina, é interessante que suas escolhas de livros do catálogo sejam mais de cunho pessoal – livros que ela goste, títulos de autoras e autores que ela admire, etc. – do que por outras razões (mas, provavelmente, a disponibilidade dos títulos no estoque da editora deve possuir seu peso na hora da escolha). Então acabo me sentindo tentada (não só por essa razão, mas por outras que pretendo conseguir desenvolver melhor nas próximas semanas) a considerar a Carina com uma autora astronauta, termo que a professora Luciana Salazar Salgado menciona em um de seus artigos, A transitividade das autorias nos processos editoriais (2016), e que se refere a (neste caso) uma autora cujo efeito de autoria é altamente especializada, mas que é submetida a um sistema ao qual deve responder com destreza e eficácia.
Resumindo as diferenças mais "proeminentes", temos (isso ficaria ótimo em uma tabela):
E já que estamos falando de mimos, me parece o gancho perfeito para falar dos itens que são enviados no Clube da Carina. Além dos dois livros, são enviados brindes surpresa, postais colecionáveis, marcadores de página (tudo temático de acordo com os volumes enviados), carta da Carina, cupom de desconto para compras de livros direto na editora e lembrete das lives. Os mimos – objetos surpresa, postais e marcadores de página – já são bastante comuns entre as caixas de assinatura** para os bibliófilos de plantão, mas os cupons de desconto e as lives não são encontrados em vários outros clubes. Antes de falar destes dois "itens" (posso chamar uma live de item?), acho interessante mencionar que a carta da curadora também é um item diferencial neste caso porque sempre é uma carta da Carina falando sobre o que a levou a escolher os livros enviados. Nos outros clubes temos cartas dos curadores ou revistas sobre os volumes enviados, mas eles nunca são necessariamente da mesma pessoa. Os cupons obviamente instigam o assinante a adquirir outros livros da editora, mas as lives tentam resgatar a essência do que eram os clubes de livro em algum momento do passado.
Participo de um clube do livro, o Infinistante (este não envolve assinaturas mensais, nem nada assim), que propõe leituras mensais e ao final das leituras há uma live no YouTube, para comentários e discussões das histórias e impressões das três criadoras do projeto com os leitores participantes, que estiverem online. E o que mais me deixa interessada em realizar as leituras – além, é claro, dos livros escolhidos – é essa possibilidade de poder saber o que as outras pessoas que leram a história acharam de seu desenvolvimento e temas abordados, porque não é todo dia que tenho vontade de escrever uma resenha com dez-doze parágrafos sobre um livro que li. Para mim, o Infinistante consegue atualizar um rito (a discussão de uma leitura compartilhada) que estava caindo em desuso por uma parcela abrangente de leitores e, agora, o Clube da Carina começa a fazer a mesma coisa. Byung-Chul Han, especialista em Filosofia e Estudos Culturais, diz em Agonia do Eros (editora Vozes, 2017) que os espaços e as ações rituais estão desaparecendo cada vez mais rapidamente (o que claramente é real), então entendo que ações como essa, ainda que não tenham especificamente este propósito, levam as ações rituais para novos espaços, ao mesmo tempo as transformando e impedindo seu desaparecimento. E, se a adoração ao livro, como bem menciona Alberto Manguel em Uma História da Leitura (Companhia das Letras, 2012), é um dos alicerces da sociedade letrada como a que estamos, os clubes de livros, como o da Carina, têm parte importante na fetichização do objeto e na continuidade da adoração.
A possibilidade de troca dos livros de catálogo enviados no Clube da Carina é mais um ponto para a minha lista de diferenças em relação aos outros clubes de livros. Assim como nos demais clubes, os volumes inéditos não podem ser trocados (até porque são inéditos e a ideia é aproveitar o gostinho de ser um leitor "vip", não é mesmo?), mas o segundo livro enviado, o do catálogo, caso o assinante já possua em sua estante pode ser trocado por algum dos outros títulos pré-determinados pela editora/clube – mas é claro que essa opção não fica aberta sempre, o assinante tem até 7 dias após ter recebido sua caixa para entrar em contato através do e-mail da editora para solicitar a troca e saber mais detalhes de como o processo é realizado.
Outro ponto interessante de se mencionar é que a curadoria é exclusiva da Carina. Geralmente, ou não sabemos quem são os curadores das caixas dos clubes de livros, ou são curadores temporários (a TAG, por exemplo, tem um curador ou curadora diferente em cada edição). Pelo Clube ser da Carina, é interessante que suas escolhas de livros do catálogo sejam mais de cunho pessoal – livros que ela goste, títulos de autoras e autores que ela admire, etc. – do que por outras razões (mas, provavelmente, a disponibilidade dos títulos no estoque da editora deve possuir seu peso na hora da escolha). Então acabo me sentindo tentada (não só por essa razão, mas por outras que pretendo conseguir desenvolver melhor nas próximas semanas) a considerar a Carina com uma autora astronauta, termo que a professora Luciana Salazar Salgado menciona em um de seus artigos, A transitividade das autorias nos processos editoriais (2016), e que se refere a (neste caso) uma autora cujo efeito de autoria é altamente especializada, mas que é submetida a um sistema ao qual deve responder com destreza e eficácia.
Resumindo as diferenças mais "proeminentes", temos (isso ficaria ótimo em uma tabela):
- edição dos livros enviados
- possibilidade de troca dos livros de catálogo
- curadoria de uma única autora
- cupons de desconto
- lives no Facebook
Por ser um clube do livro concorrendo com outros vários clubes, o Clube da Carina deveria ter um efeito (essa provavelmente não é a palavra, mas irei pensar em uma melhor) de raridade, que agradasse e interessasse mais leitores da Carina, uma autora consagrada no nicho do chick-lit (em 2012 escrevi um post falando sobre o gênero para o blog da Aped Editora, mas o texto não está mais disponível, tudo o que restou foi o meu post falando sobre ele), tornando-os assinantes – não sei se você se lembra, mas num dos links do post anterior era mencionado que era esperado que as leitoras que gostam da escrita da Carina se identificassem com as escolhas da autora. Hoje, eu vejo o apelo que as escolhas da autora têm para suas leitoras – a aproximação com a autora, a semelhança de gostos, etc. –, mas o fator de raridade não me parece tão delineado (ou provavelmente nem é o foco).
Observações:
* De acordo com o Dicio.com.br, um mimo é, entre outras coisas, "aquilo que se oferece; presente, dádiva, oferenda" (confira o significado completo aqui).
** Com exceção do Calhamaço Clube de Livros, "que é Elitista em Qualidade, mas Democrático no Preço" e cortou "tudo que é supérfluo e vai pro lixo: caixinhas, marcadores e outros ~mimos~" porque eles gostam "mesmo é de um bom livro e com preço justo", todos os clubes de livro que encontrei (incluindo aí os das editoras que citei no começo do post, o Turista Literário, a TAG Livros, o Garimpo, o Leiturinha, etc. etc. etc.) enviava algum tipo de mimo, seja ele uma carta do curador, marcadores, brindes ou outros objetos que se relacionem com a proposta.
Livros citados neste post (para você conhecer):
Agonia do Eros, de Byung-Chul Han (Editora Vozes, 2017)
Uma história da leitura, de Alberto Manguel (Companhia das Letras, 2012)
Artigo citado neste post (para você conhecer):
A transitividade das autorias nos processos editoriais, de Luciana Salazar Salgado (Revista da ABRALIN, v. 15, n. 2, 2016)
Observações:
* De acordo com o Dicio.com.br, um mimo é, entre outras coisas, "aquilo que se oferece; presente, dádiva, oferenda" (confira o significado completo aqui).
** Com exceção do Calhamaço Clube de Livros, "que é Elitista em Qualidade, mas Democrático no Preço" e cortou "tudo que é supérfluo e vai pro lixo: caixinhas, marcadores e outros ~mimos~" porque eles gostam "mesmo é de um bom livro e com preço justo", todos os clubes de livro que encontrei (incluindo aí os das editoras que citei no começo do post, o Turista Literário, a TAG Livros, o Garimpo, o Leiturinha, etc. etc. etc.) enviava algum tipo de mimo, seja ele uma carta do curador, marcadores, brindes ou outros objetos que se relacionem com a proposta.
Livros citados neste post (para você conhecer):
Agonia do Eros, de Byung-Chul Han (Editora Vozes, 2017)
Uma história da leitura, de Alberto Manguel (Companhia das Letras, 2012)
Artigo citado neste post (para você conhecer):
A transitividade das autorias nos processos editoriais, de Luciana Salazar Salgado (Revista da ABRALIN, v. 15, n. 2, 2016)
PS.: Vou manter o "meio blogueira e meio acadêmica" como padrão antes dos dois pontos nos títulos dos posts que envolvam as reflexões sobre o Clube da Carina não só por uma questão de organização, mas porque distingue este conteúdo dos outros posts do blog.
Até breve! ❤
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